Uma expedição mágica (e selvagem) até um dos picos mais lendários da Costa Rica.
Entre os parques nacionais da Costa Rica e o luxo discreto da Península de Papagayo, vive uma das experiências mais surreais da minha trajetória: surfar na Roca Bruja (Witch’s Rock), uma pedra vulcânica que emite sons com o vento, vigiada por onças e cercada por lendas. Mesmo sem ser um surfista profissional, vivi ali um dia tão improvável que só poderia ter sido escrito pelas mãos da natureza.
Um surfista improvável em spots dos sonhos
Não me considero um surfista. No máximo, um amador apaixonado pela natureza que o surf revela. Mas, por uma dessas ironias bonitas da vida, já tive a sorte de estar em lugares que fazem parte do imaginário de qualquer surfista profissional: já surfei inúmeras vezes em Bali, em Floripa, e aprendi a surfar em um dos arquipélagos mais míticos do planeta — Mentawai, na Indonésia. Agora, adiciono à lista a lendária Roca Bruja, na Costa Rica.
A lenda da pedra que uiva
A Roca Bruja, ou Witch’s Rock, está localizada dentro do Parque Nacional Santa Rosa, e pode ser avistada à distância da praia do hotel Nekajui, onde estávamos hospedados. Seu nome vem de um som peculiar: quando o vento sopra em certos ângulos, a pedra “uiva”. Um som agudo que corta o silêncio da floresta como um feitiço antigo.
Segundo o capitão do nosso barco, a rocha não pertence geologicamente àquela região. Há quem diga que foi cuspida por um vulcão há centenas de anos — um pedaço de fogo e pedra jogado ao mar. E foi ao redor dela que a história se desenrolou.
Um caminho exclusivo até o paraíso
A maioria das pessoas chega à Roca Bruja por trilhas longas, de carro, atravessando o parque nacional por horas. Mas para quem está na Península de Papagayo, há uma rota muito mais especial: 30 minutos de speedboat direto da praia do hotel até a praia deserta de frente para a rocha.
Hanna, do marketing da Península, organizou tudo com perfeição. E assim, partimos em uma travessia silenciosa, quase cerimonial, até um dos lugares mais surreais que já vi.

Jaguar, tartarugas e uma praia só nossa
Ao chegar, o capitão nos contou algo que mudou o jeito como olhei para aquela praia: nas primeiras horas da manhã, é comum ver jaguares caminhando pela areia, esperando tartarugas virem botar ovos para então caçá-las. Ele me mostrou uma foto no celular que parecia coisa de documentário da BBC. E ali estávamos nós: apenas eu, Layla, dois instrutores e uma praia selvagem inteira só para a gente.
É isso que eu mais amo no surf: o privilégio de acessar lugares assim. Isolados. Intocados. Sagrados.
100% de aproveitamento (e uma lição que fica)
Confesso que fui para a água sem grandes pretensões. Só de estar ali já me sentia abençoado. Mas algo mudou. Peguei 4 ondas — e acertei todas. Pela primeira vez, senti que algo tinha virado dentro de mim.
Foi uma lição poderosa. Eu nunca me levei tão a sério como surfista. Achava que nunca melhoraria de verdade, porque faltava constância. Mas a verdade é que tudo muda quando você se dedica com frequência — e foi isso que a expedição de surf da YAZ, liderada pela Layla, me proporcionou: aulas diárias, presença, repetição. Pela primeira vez na vida, tive dias seguidos de prática, e o resultado foi claro.

A foto que imaginei
Depois de surfar, nadei até a praia deserta com minha mochila à prova d’água. Lá dentro, minha câmera e uma ideia: capturar a Layla surfando com a Roca Bruja ao fundo. Fui até a areia, sentei sozinho, ouvindo só o barulho do mar e pensando se alguma onça estaria me observando do mato. Um silêncio selvagem.
Esperei, mirei e cliquei. E consegui. A imagem saiu exatamente como imaginei. Uma daquelas raras vezes em que o real encontra o sonho com precisão de roteiro.
Vista de cima e banquete final
Antes de partir, lancei meu drone para ter a vista que sempre busco nos lugares onde passo: o olhar do pássaro. E com ele, um último registro da imensidão azul, da pedra que uiva, e da praia que respira mistério.
Na volta, um banquete nos esperava no barco, preparado pela equipe da Península Papagayo. Foi o fechamento perfeito de uma tarde que teve de tudo: beleza, surf, fauna selvagem e presença.

Nadando com tubarões (sem saber)
De volta à praia do Nekajui, o barco ancorou bem ali em frente ao restaurante do hotel. Descemos na água com a maré já subindo, e, de repente, um tubarão enorme passou bem ao nosso lado. Na maior naturalidade, o capitão riu e disse:
— Vocês têm medo de tubarão? Então nem deviam ter surfado onde surfaram hoje… lá na Roca Bruja é cheio deles!
Rimos. Meio nervosos. Meio encantados. Porque, no fim, é isso: às vezes, o melhor da vida é não saber demais — e deixar o mistério te conduzir.